Corpo, poesia e subjetividade

Diálogos interepistêmicos entre Rubem Alves e Ailton Krenak

Autores

Palavras-chave:

Povo da mercadoria, Fruição existencial, Outridade

Resumo

Este artigo analisa as convergências entre o pensamento de Ailton Krenak e Rubem Alves em sua crítica à lógica utilitarista e consumista da modernidade. Partindo da análise de Guy Debord sobre a sociedade do espetáculo, o estudo identifica como a racionalidade instrumental colonizou as subjetividades contemporâneas, transformando a vida em mercadoria e reduzindo a experiência humana à sua utilidade produtiva. À luz da fenomenologia de Merleau-Ponty, exploramos como ambos os autores, apesar de suas diferentes tradições — a cosmovisão indígena e a teologia crítica — propõem a fruição existencial e a valorização da corporeidade como formas de resistência à instrumentalização da vida. O conceito de “outridade” de Octavio Paz é mobilizado para compreender a dimensão poética dessa resistência, revelando como o deslocamento perceptivo e a recuperação da sensibilidade constituem estratégias para “adiar o fim do mundo”. Conclui-se que Krenak e Alves convergem ao propor a reconfiguração da experiência humana para além dos parâmetros da produtividade, afirmando a vida não por sua utilidade, mas por sua capacidade de gerar beleza, sentido e comunhão.

Biografia do Autor

Gustavo Claudiano Martins, Faculdade Unida de Vitória

Docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiões da Faculdade Unida de Vitória (FUV). Doutor em Ciências da Religião (UFJF) e Graduação em Engenharia do Petróleo, Teologia, Filosofia, Ciências das Religiões e História. Email: gustavoclaudianomartins@gmail.com

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Publicado

2025-09-30

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Artigos/Articles: Temática Livre/Free subject